ETAPA 3

 

Depois que fizemos o trabalho de descrever os elementos que estão sendo retratados, é chegada a hora de problematizá-los, interpretá-los, conferir sentido e significado às ações presentes na obra. Sabe o que é mais legal na hora de interpretar? É que existem infinitas possibilidades, e que cada uma delas é válida para o trabalho do historiador. Portanto, o que segue não é um ultimato sobre pintura em questão, mas apenas POSSIBILIDADES, fundamentadas em um estudo considerável e em hipóteses palpáveis. E mais uma vez: antes de oferecer respostas, vamos fazer perguntas. Vamos lá?

 

  1. Como sabemos os nomes das personagens retratadas na pintura? Isso é muito importante, pois nem sempre o autor dá um nome à sua obra. Nesse caso, Millais nomeou sua pintura como "Pizarro captura o inca do Peru", mas caso isso não tivesse acontecido, como poderíamos ter acesso às inspirações do pintor? Devemos ficar atentos ao próprio quadro. Talvez a resposta esteja dentro dele mesmo. Por exemplo: observe bem as roupas que as personagens estão usando. Temos dois tipos de vestimentas. Uma é a que a figura central utiliza, em conjunto com outras personagens, e trata-se de tecidos com cores fortes, e que não possuem um corte definido, o que indica que podem ser utilizados de diversas formas. O outro tipo de vestimenta é compartilhada por três figuras que se sobressaem, principalmente do lado esquerdo do observador, e são mais diversificadas, possuindo cortes específicos. Há, ainda, um terceiro elemento que utiliza outro tipo de roupa, uma bata religiosa, o que indica tratar-se de um clérigo. Sabemos disso, também, por que essa figura leva em uma das suas mãos uma cruz, o que não poderia ser retratado sem uma intenção definida por parte do pintor.O historiador que conhece bem as características culturais dos povos que estuda, poderia dizer que se trata do contato entre duas sociedades diferentes, que mesmo compartilhando sua existência em um mesmo tempo estão muito longe uma da outra pelas questões culturais. O conhecimento histórico poderia nos dizer que o contato retratado é entre os espanhóis conquistadores do século XVI e os Incas da América Pré-Colombiana. E, muito provavelmente, as figuras centrais seriam Francisco Pizarro, conquistador espanhol, e Atahualpa, Imperador Inca.

 

  1. Se você observar bem, é possível identificar um contraste de luz e sombra que divide a pintura em duas partes. Do lado esquerdo (de quem observa) a quantidade de luz é muito grande e se opõe completamente ao lado direito que parece perdido em sombras. Por que será que Millais utilizou essa técnica? Será que há algo mais do que simples estética. Vamos utilizar o conhecimento histórico: os estudos sobre a conquista espanhola da América nos mostra que a Igreja Católica assumiu um papel muito importante, no sentido de oferecer suporte ideológico a este processo e também utilizando-o para angariar fiéis. Dessa forma, ao mesmo tempo em que apoiava a conquista, a Igreja interferia em seus assuntos de maneira a repensar o papel do nativo como um ser altamente capaz de ser cristianizado. Será que é possível ver isso na pintura? Olhe de novo. Perceba a maneira como o padre segura a cruz e como aponta para ela com a outra mão. E o Atahualpa? Para onde ele está olhando? Para a cruz? Talvez. Essa interpretação dá sentido às afirmações anteriores. O padre poderia estar “aos berros” para os soldados que estão guerreando, a fim de que esses não se esqueçam de que são cristãos. Isso é reforçado por uma segunda figura vestida de bata que deita em seu colo um nativo, provavelmente ferido em batalha. A presença do padre pode ter sido um recurso utilizado por Millais para reforçar a idéia de condescendência da Igreja no processo da conquista, e por isso o foco de luz do seu lado. Outras perguntas que podem ser feitas: será possível identificar uma oposição entre as idéias de Civilização e Barbárie? Atahualpa está segurando uma pele de animal, o que isso pode siginificar? Como os povos nativos da região conquistada estão sendo representados? O que isso pode siginifcar?

 

Como você deve ter percebido, são muitas as interpretações que um quadro pode suscitar. Por isso, uma boa análise e descrição é sempre muito importante. Aqui, apresentamos somente um breve aperitivo, convidativo talvez, e você pode participar enviando a SUA INTERPRETAÇÃO SOBRE A IMAGEM.

 

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